segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010


A PASSAGEIRA



Ahhh...não quero mais pecar.
Não quero mais desviar os meus caminhos...
Quero amar a todos sem distinção e percorrer estradas que a vida escolheu para me dar.
(A vida sou eu!)

Sinto o chamar dos ventos
que desarrumam os meus cabelos
que levantam as saias
que encrespam as águas...
E quero responder aos ventos
com o meu sorriso teso
com o meu olhar distraído
com meu corpo preguiçoso.

Não quero mais pecar me negando
aos apelos dos meus desejos
nem blasfemar dizendo que não
quando toda eu afirma que sim.

Quanta coisa se perde por bobagem
quando se perde por medo
quanto se, quando se quer!

Eu nem sei mais se quero ir embora
ou se me enterro nesse campo
sei que ardo no meu canto
e nem sequer me espanto!

Como eu era uma criança quando parti
deixando pra trás a vida.
Segui um caminho alegre, todo colorido.
Muito riso, muito canto, muito tudo!
Não acreditava na velhice.
Não acreditava no amargor.
E fui! Caminhando sem grandes pedras, sem medo e sem nada.

E nesse encanto o bonde passou
e eu alegremente acenava para ele
e deitava e rolava de alegria
no prazer de me perder em cada esquina, em cada olhar.
E delirava olhando o mar, me encantava com as ondas,
quaisquer que fossem elas.

Nas horas de frio olhava a minha mala
e sabia que ainda dava tempo.
Mas ninguém me chamava.
E eu acreditava que aquele lugar era meu.
O tempo era meu
Assim como o sorriso era de mim para o mundo
e acreditava que ele sorria para mim.

Enquanto jovem o mundo sempre sorri,
sempre te abraça e te quer.
O mundo te faz acreditar nos coloridos
que enxergamos.

Até que um dia olho no espelho
e sinto que o tempo passou e
que agora não há mais tempo.
Que o bonde passou e finalmente entendi
que todos que estavam dentro dele
não acenavam para mim.
Eles se despediam.

Agora acredito que ninguém espera.
Casualmente alguém para.
Casualmente você esbarra.

Todos com seus pares
e eu orgulhosamente caminho
levando um sorriso que me custa sustentar
assim como me custa andar com esse estandarte
de uma liberdade que agora não quero mais.
Que não me serve mais.
Que não faz mais sentido.
Que me pesa demais.

Sinceramente para mim eu confesso o quanto me pesa,
o quanto me mutila.
E que arde tanto quanto
ou muito mais que o sol nos meus olhos.

Tantos sonhos, tantas crenças
que acredito ainda que podem ser realizadas.
Fica a cargo do tempo voltar,
da minha juventude se restabelecer,
para que eu possa fazer tudo de forma diferente.

É tudo muito distante e deserto
e dentro de mim essa festa toda.
Embalando meus sonhos
e sendo embalada pela realidade.

Não tem nada muito triste.
Não tem nada muito feliz.
É uma vida normal que ficou assim.


(Hoje não me perco mais nos corpos vazios.
Não há mais aonde se perder.
Não há mais força e nem tantos desejos.

A liberdade me agrilhoou com suas garras impiedosas e seu sorriso é malsã.
E nem sentia o mal que fazia o seu veneno.
Afinal eu acreditei que era mais venenosa que a própria vida.

Com certeza continuo sorrindo
continuo contente
continuo pra frente.

Somente eu sei a dor que me consome.

(*foto do arquivo de Bia Branco)



(Trago na memória o rostinho meio que triste e sem entender o laço desfeito parado na porta com a mochilinha pendurada nas costas. Rostinho de anjo aquele que acabava de ser abortado da vida e que desde menininho já tinha a difícil tarefa de ser um homem. Trago essa foto na minha bagagem.)