terça-feira, 7 de abril de 2009


Outro dia, sonhei com o Coliseu romano.
Muita gente contemporânea na arquibancada gritando e exaurindo os seus horrores.
Uma louca mulher enfrentava a fera hedionda.
As pessoas queriam o sangue sagrado da mulher.
Essa enfrentava a besta seguindo fielmente a sua estrada.
O povo clamava pelo sangue sagrado da mulher.
Ela, já lacerada, humilhada, ainda se contorcia no chão. Mas não pedia clemência.
Socorrida pelas força interior de seu ser, se erguia pra mais um confronto.
O povo, mesmo vendo a mulher ultrajada, ninguém estendeu-lhe a mão.
Não houve seguer um grito de dor pela mulher.
Ninguém chamou-lhe o nome em sua defesa.
Não houve seguer um gesto.
Um olhar piedoso.
Ao contrário.
Os homens tripudiavam nos amores e dores dela.
As mulheres regogizavam...
Os homens blasfemavam.
As mulheres antegozavam todas as quedas.
A selvageria e prepotência do ataque masculino diante o clamor do povo fez com que potencializasse cada golpe certeiro.
Até que cansada e exaurida olhava atônita pras mulheres e o grande público na arquibancada até se retirar da arena.
Derrotada. Ferida.
Esperava pelo menos uma voz em seu favor.
Não houve. Nenhum fio de voz a defende-la do leão.
Não houve nem silêncio na sua retirada cabaleante.
Ao fim do espetáculo, lá estava a besta fera, recebendo o apoio e aplausos ardentes do grande público a que se submeteu a louca mulher.
A besta fera hoje, talvez não seja lenda. Mas também não é mistério.
Não é estória, mas também não se tornou história.
Sobrou apenas o ardor selvagem masculino que se perpetuou e demostrou com isso a coragem pérfida de ferir a mulher.
Por fim, nada sobrou.
O que ontem se fez forte e valente, hoje aos meus olhos silenciosos tornou-se um vil e desleal.
O que ontem era uma louca mulher, hoje aos meus olhos silenciosos tornou-se mais que linda. Tornou-se mais Mulher!
Tornou-se uma linda mulher gurreira, que lutou por todas as mulheres que não entenderam a sua luta!
Ou não entenderam... Ou por medo ou pudor, resolveram calar-se!

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